quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Cresci em uma casa de praia, com o detalhe de que a mais próxima fica a mais de mil quilômetros, possivelmente na Bahia. Lá aprendi a acordar cedo por causa das janelas que nunca receberam cortinas ou persianas. Também aprendi a aproveitar o dia, o sol e o jardim. Quase sempre levava livros, cadernos, caneta, lápis e borracha para fora e ficava à sombra de um abacateiro estudando para prova da escola, com os cachorros descansando aos meus pés.

Cada detalhe da decoração parecia mudar diariamente. Sempre uma novidade. Um abajur, um tapete ou enfeite novo ou que mudavam de um lugar para o outro com graciosidade, graças à vocação mutante da minha mãe.

Distante de tudo, tive crises existenciais na adolescência pela dificuldade de sair de casa. O ônibus 136 ou 136.1 passava de hora em hora. O primeiro seguia pela W3 até a rodoviária, o outro pela L2. Tinha também o 136.2 que ia até o final da Asa Sul, mas era raridade, devia passar a cada dois anos. Dependia da carona dos pais ou dos amigos de 18 anos que já tinham carro e boa vontade de seguir até o final do Lago Norte para me buscar e, de preferência, me levar de volta.

Fui embora uma vez, morei em Minas Gerais, não gostei e voltei. Fiquei por mais alguns anos e saí de novo para uma casa nova, marido e alguns móveis da casa antiga que me dessem conforto. Mas ela sempre estava lá. Colorida com cheiro de maresia.

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