terça-feira, 24 de novembro de 2009

Tango

O convite não pareceu um galanteio e partiu de uma pessoa que conheci enquanto trabalhava e que pareceu ser inocente ao convidar a mim e outras pessoas para jantar e tomar um vinho em algum ponto turístico de Buenos Aires.

A noite estava fria na praça em Santelmo, o vinho era colombiano e a conversa animada e nada capciosa. Fomos embora. No caminho foram ficando as pessoas e eu por último. Já próximo do hotel foi dado início o xaveco-latin-lover-canastrão.

Peço aos leitores que imaginem as frases em itálico a seguir em espanhol:
Havia separado uma música só para tocar para você. Uma música brasileira, do Caetano.

Em nenhum momento, a criatura deu a entender que estava interessado. Começo a ficar com vergonha e não consigo olhar pra outro lugar a não ser para a rua. E continuou:

Mas hoje pela manhã, roubaram meu rádio. Mas a música era assim... - sim ele cantarolou! - Linda, mais que demais. Você é linda sim...

Eu não movia mais um músculo. Não acreditava na ousadia do argentino que devia medir no máximo 1,55m, com um grande mullet que eles insistem em usar e que parecem ser feitos em massa na mesma peluqueria.

... Desde o primeiro momento que te vi quis te beijar. Seus olhos, sua boca, seu cabelo.

O que? Aí foi demais. Era tudo muito engraçado. As frases sendo balbuciadas em espanhol, a intensidade que ele imprimia ao momento, de forma dramática, e o elogio ao meu cabelo, que em espanhol é "pelo", ficou ecoando na minha cabeça. Su ojos, su boca ... su pelo. Quase tive uma crise de riso.

Chegamos na porta do hotel - graças à Santa Evita - agradeci a preferência e relembrei ao hermano que era uma senhoura casada. Sua expressão foi de uma falsa tristeza. Pedi desculpas e desci do carro. Pra completar a cena arrancou com o carro cantando os pneus.

Fui pro quarto, comi um alfajore Havanna de café com doce de leite e fui dormir com um sorriso pensando como é bom sacanear arrentino. Maldade...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Identidade - parte II

Segunda tentativa... contei a história triste humildemente, e recebo a resposta: Querida, não é aqui. Ou você vai na 1ª DP ou no na DP do Cruzeiro que só abre depois do meio-dia... Mas você pode aproveitar, ir no BRB que tem aqui no prédio, pagar a taxa de R$ 37,68 e já chegar lá com tudo bonitinho.
Fui ao BRB, entrei em uma mega fila e lembrei após uns 10 minutos que não tinha um tostão. Saí de lá, fui ao Sudoeste, saquei dinheiro, voltei ao banco, mais fila e 40 minutos depois consegui pagar o raio da taxa. Ali comecei a perceber que precisava ir ao banheiro... Fui até a 1ª DP. Era mais longe que a do Cruzeiro, mas sabia exatamente onde ficava e a senhora que me atendeu havia me dado um nome... Comecei a ter esperanças.

Trânsito e chuva. Estaciono, entro, pego senha e sento. Ouço alguém chamar pelo nome que haviam me indicado. Ele já estava de saída, mas rapidamente me levantei e pela terceira vez contei a história triste. Ele pediu pra aguardar, entrou, falou com outra pessoa e disse que daria tudo certo. Ok, pensei... mas fiquei com uma interrogação franzindo minha testa. Quando chamaram minha senha, apresentei os documentos necessários para outro policial e começou a digitalização de todos os dedos das mãos.

Como estava na dúvida do que significava aquele "vai dar tudo certo", contei a história triste pela quarta vez. Um sorriso se abriu, mais uma vez ouvi que era pra ficar tranquila e me deu outro nome de outra pessoa que trabalha no primeiro lugar que fui e me recomendou que assim que terminasse ali, voltasse lá só pra ter certeza que tudo daria certo. Ai!!!

Enquanto ele se preparava para tirar minha foto, o policial veio com um papinho sobre o ciúme que os maridos têm por ele tocar os dedos das suas esposas... e eu fingindo estar amando a conversa e a essa altura já estava louca pra ir ao banheiro.

Voltei na polícia do parque, me identifiquei de novo pro guarda doido que havia me mandado antes pro IML. Os policiais eram outros, haviam trocado o turno. Pela quinta vez conto a história triste seguido da saga até chegar ali novamente. E pela enésima vez, ouço Vai dar tudo certo. Aí relaxei e finalmente fui ao toillet.

Dois dias depois me ligaram, busquei o RG e até me desejaram boa viagem! Nice.

domingo, 15 de novembro de 2009

Querido... quieres salir para divertirse


Buenos Aires está fria mas com o céu azul depois da tempestade.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Identidade

Na última sexta-feira fiquei sabendo que vou para Argentina a trabalho. Fiquei feliz da vida, mas como a viagem será na próxima sexta, já comecei a me organizar. Para embarcar não é preciso passaporte apenas a identidade, desde que ela tenha no máximo 10 anos. Tirei meu RG em 1994. Bom, mas também aceitam o passaporte... ledo engano. Como ele vence em 6 meses, nada feito.

Comecei a saga pelo RG na segunda-feira de manhã. Até então estava tranquila, afinal existe um posto do Governo do Distrito Federal na rodoviária de Brasília onde é possível tirar "rapidamente" diversos tipos de documentos. Depois de tentar descobrir o telefone desse troço na internet por 30 minutos, descobri que deveria esperar pela identidade por, no mínimo, 15 dias. Ah, e o nome do posto do GDF é chamado ironicamente de "Na hora".

Decidi que o melhor seria ir direto na polícia para tentar resolver tudo. Primeira parada, a Polícia Civil que fica em frente ao parque da cidade. Na portaria me identifiquei e disse o que queria. O guarda apontou para um prédio verde logo na frente. Estava preocupada imaginando que aquele era só o começo e tinha zilhões de coisas pra fazer. Estacionei o carro e fui até a entrada principal. Achei estranho o cheiro de carniça... Na recepção comecei a contar uma história triste sobre meus documentos, que viajaria naquela semana mesmo, que era uma oportunidade profissional e estava com medo de perdê-la, blá blá blá.
O homem me ouviu pacientemente e disse com cara de deboche: Querida, aqui é o IML. Fiz minha cara de vergonha, agradeci, joguei a culpa no guarda da portaria e perguntei onde então era - a porra - do prédio que eu tinha que ir. Prestei bastante atenção na explicação e fui.

Continua...

domingo, 8 de novembro de 2009

The best gig

Brasília fica por fora do circuito de shows internacionais. Não que eles não aconteçam por aqui, mas não é nada frequente. Sempre que posso vou ao Rio para assistir alguma banda que não porá os pés na capital federal nos próximos 5 anos, ou nunca o fará. A grana - sempre ela - acaba por não permitir ir a tantos shows quanto gostaria. Não apenas por ser fã, só para ir, ouvir música, dançar.
Perdi muitos este ano... mas meu grande consolo é lembrar de um show que assisti em Londres, em 2005. James Brown. Soube que ele se apresentaria na Inglaterra, quando ainda estava no Brasil e rapidinho acionei o Jack, um amigo inglês, para providenciar meu ingresso.
Já em Londres, enquanto fazia o circuito aulas-passeios-pubs, ficava especulando sobre o King of Soul. Ele estava com 73 anos e tive dúvidas quanto ao seu desempenho. No dia do show, eu e um outro amigo, o Mike, seguimos para o teatro. A fila estava grande e a expectativa aumentava. Nos separamos na entrada, pois eu havia comprado o ingresso para "pista" e ele "arquibancada" - entre aspas por que o show foi em um teatro modificado. A "pista" era na parte de baixo, com dois pubs nas laterais e uma pista grande em frente ao palco e a "arquibancada" era na parte de cima, como um mezanino com cadeiras numeradas.
Entrei e comecei a andar meio sem rumo pelo ambiente, alone. Um DJ estava no palco tocando rap e funk mas deixou a desejar. Após 40 minutos entra a banda e aí começa a brincadeira... os músicos beiravam a perfeição. Na segunda música o MC começou a provocar o público, gritando no microfone: Vocês querem James Brown? Eu não ouvi! Vocês querem James Brown? E a platéia indo ao delírio. Naquele ponto eu já havia escolhido um local estratégico para ver o show e dançar junto aos meus novos amigos, de Barbados, da África do Sul e ingleses descendentes de jamaicanos e caribenhos, que davam um show a parte no quesito swing.
Eis que surge James Brown cantando "Sex Machine", energicamente acompanhado dos perfeitos arranjos dos metais. E foi assim até a última música, uma hora e quarenta depois. Sem dúvida, foi o show mais dançante e vibrante que fui na vida. Eu pingava de suor e não conseguia controlar o sorriso escancarado. Eu e meus amiguinhos nos cumprimentávamos pelos momentos felizes que tivemos ali. E o Mr. Dynamite só não foi mais perfeito por não ter feito suas famosas aberturas com as pernas no palco que tanto esperei ver. Mas ele estava lá, com o cabelo esquisito, o sorriso do gato da Alice, a cena da capa durante a canção "Please, Please, Please", a energia enquanto dançava vigorosamente.
Na saída do teatro encontrei o Mike, também em êxtase, mas meio triste... na "arquibancada" não era permitido dançar.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Protesto!

Quando era criança adorava fotografar e ser fotografada. Achava o máximo o fato de poder registrar alguns momentos, a roupinha bacana na festa de aniversário, os amiguinhos, as brincadeiras na piscina do clube. O ruim era esperar revelar o filme. Sempre ansiosa.

O tempo passou um bocadinho e hoje não precisamos nos empenhar tanto na pose, já que podemos repetir e tirar várias fotos até que uma satisfaça. O problema é que não tenho paciência e sempre saio esquisitíssima na maioria delas.

Pra piorar, como todo mundo tem câmera digital e faz parte de alguma rede social, sempre aparece navegando pela web alguma foto que, particularmente, estou horrorosa!

Lovely friends!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

No doubts

A maresia esfumaçava a noite. Confortavelmente peguei no sono e acordei com a sensação de sonho bom. Vista pro mar. Uma combinação bizarra de souvenirs e petiscos dispostos em cima do frigobar: toblerone, camisinha masculina e feminina e palmito em conserva. Prefiro não imaginar o que passa na cabeça dos gringos que visitam o Rio.

À noite, bares cheios, sorrisos, copos quebrados e placas de proibido fumar. Cerveja Devassa e pestico carinhosamente apelidado de "Alvorada" (lula na cachaça).

O tempero decadente de Copacabana e as janelas escancaradas, paraíso dos voyers. Praia cheia, corpos expostos ao sol. Os morros, o Cristo, o aterro. O tempo passando arrastado. A sensação de que alguns dias duraram meses. Qual a a consequência dos nossos sonhos? Como estar tão perto do que se quer e ficar serena? Quanto tempo pode levar para mudar tudo?

A volta foi tranquila e muitas questões parecem já estar resolvidas: correr no calçadão ou no eixão? seca ou umidade? churrasco ou frutos do mar? beirute ou degrau? francisco ou shirley?