O convite não pareceu um galanteio e partiu de uma pessoa que conheci enquanto trabalhava e que pareceu ser inocente ao convidar a mim e outras pessoas para jantar e tomar um vinho em algum ponto turístico de Buenos Aires.
A noite estava fria na praça em Santelmo, o vinho era colombiano e a conversa animada e nada capciosa. Fomos embora. No caminho foram ficando as pessoas e eu por último. Já próximo do hotel foi dado início o xaveco-latin-lover-canastrão.
Peço aos leitores que imaginem as frases em itálico a seguir em espanhol:
Havia separado uma música só para tocar para você. Uma música brasileira, do Caetano.
Em nenhum momento, a criatura deu a entender que estava interessado. Começo a ficar com vergonha e não consigo olhar pra outro lugar a não ser para a rua. E continuou:
Mas hoje pela manhã, roubaram meu rádio. Mas a música era assim... - sim ele cantarolou! - Linda, mais que demais. Você é linda sim...
Eu não movia mais um músculo. Não acreditava na ousadia do argentino que devia medir no máximo 1,55m, com um grande mullet que eles insistem em usar e que parecem ser feitos em massa na mesma peluqueria.
... Desde o primeiro momento que te vi quis te beijar. Seus olhos, sua boca, seu cabelo.
O que? Aí foi demais. Era tudo muito engraçado. As frases sendo balbuciadas em espanhol, a intensidade que ele imprimia ao momento, de forma dramática, e o elogio ao meu cabelo, que em espanhol é "pelo", ficou ecoando na minha cabeça. Su ojos, su boca ... su pelo. Quase tive uma crise de riso.
Chegamos na porta do hotel - graças à Santa Evita - agradeci a preferência e relembrei ao hermano que era uma senhoura casada. Sua expressão foi de uma falsa tristeza. Pedi desculpas e desci do carro. Pra completar a cena arrancou com o carro cantando os pneus.
Fui pro quarto, comi um alfajore Havanna de café com doce de leite e fui dormir com um sorriso pensando como é bom sacanear arrentino. Maldade...
Para ler na ressaca do Natal
Há 9 anos